BNDES já aprovou R$ 2,45 bilhões em renegociações de dívidas rurais
No mês de estreia da linha destinada à repactuação de débitos, 8,3 mil pedidos de empréstimo receberam sinal verde
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou R$ 2,45 bilhões em operações da linha para renegociação de dívidas rurais desde a abertura dos protocolos, em 16 de outubro. No primeiro mês de validade da medida, foram aprovados 8,3 mil pedidos de financiamentos destinados a produtores de 485 municípios de 16 Estados, com ticket médio de R$ 296 mil, de acordo com balanço antecipado ao Valor.
O montante liberado representa 20% dos R$ 12 bilhões de recursos públicos, repassados pelo Ministério da Fazenda ao BNDES. A linha de renegociação ficará aberta até fevereiro de 2026. Até agora, 12 instituições financeiras tiveram operações aprovadas, como Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, BRDE, Sicoob, Sicredi e Cresol. Ao todo, 47 agentes financeiros receberam saldos para operacionalizar as renegociações. A medida atende produtores de 1.436 municípios afetados por adversidades climáticas nos últimos anos.
Do total aprovado, R$ 1,5 bilhão (61%) foram destinados a agricultores familiares e médios produtores. A regra prevê que ao menos 40% dos recursos sejam concedidos para esse público.
“Estamos atuando para assegurar um caminho responsável para que agricultores afetados por eventos climáticos extremos possam retomar a produção. Por meio deste programa, estamos garantindo fôlego financeiro e fortalecendo quem sustenta a produção de alimentos do país e um setor que é um dos principais motores do desenvolvimento econômico”, afirmou Aloizio Mercadante, presidente do BNDES.
Ontem, em audiência pública no Senado, o chefe do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro (Derop) do Banco Central, Claudio Filgueiras, afirmou que o saldo das renegociações de dívidas no amparo das regras da Medida Provisória 1.314/2025, que criou a linha do BNDES, já chegou a R$ 3,57 bilhões. Segundo ele, 97,2% dos recursos foram acessados por produtores do Rio Grande do Sul, onde o cenário de endividamento é mais grave.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, avaliou que o desembolso não é motivo de comemoração. “As dívidas dos produtores gaúchos estão em R$ 73 bilhões, das quais R$ 27 bilhões já estão estressadas, inadimplentes ou renegociadas. Não vejo espaço para comemorar, as lavouras já eram para estar plantadas”, disse na audiência.
O presidente da Farsul, Domingos Velho, disse que a medida é insuficiente e voltou a defender a aprovação do projeto 5.122/2023, que usa até R$ 30 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal, que não impacta o arcabouço fiscal, para renegociação de dívidas. “A solução é política. Não estamos pedindo perdão, estamos pedindo prazo”, afirmou.
Filgueiras, do BC, disse que a contratação de renegociações com recursos livres dos bancos, que não tem limitação, ganhou tração após uma mudança feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na semana passada. O colegiado permitiu que as operações que estavam cumprindo as exigências de aplicação de algumas fontes, como poupança rural e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), possam ser renegociadas a juros livres sem alterar o cumprimento do direcionamento pelas instituições financeiras. Segundo o diretor, isso vai dar impulso às renegociações. “Algumas instituições estão fazendo R$ 100 milhões de renegociação por dia depois da publicação da resolução”, disse. A norma foi publicada na sexta-feira (14/11).
Na semana passada, o BB informou que usou apenas R$ 448 milhões no período de um saldo total de R$ 4,3 bilhões. Outros R$ 5,4 bilhões foram renegociados com recursos livres do banco. Balanço apresentado pelo secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, mostra que o saldo de operações com recursos públicos passou para R$ 864 milhões até a última sexta-feira (14/11).
O Banrisul foi o primeiro a acessar os recursos repassados pelo BNDES para a liquidação ou amortização das dívidas e zerou o saldo de R$ 880,7 milhões em dois dias. Agora, os valores estão em fase de contratação pelos produtores. Mesmo assim, o superintendente de Agronegócios do banco gaúcho, Robson Santos, destacou a dificuldade de operacionalização da linha.
“Está muito truncado. Isso faz com que muitos produtores tenham dificuldade de regularizar sua situação”, disse Santos na audiência.
A expectativa do Ministério da Fazenda é atingir até R$ 40 bilhões em renegociações de dívidas na linha com recursos livres. Francisco Erismá Albuquerque, subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais da Pasta, disse que a carência de um ano e o prazo de até 9 anos para pagamento consegue “atender bastante” esse público. “Os recursos públicos são muito escassos (...) A ideia é focalizar nos produtores que mais precisaram”, avaliou.
Fonte. https://globorural.globo.com/credito-e-investimento/noticia/2025/11/bndes-ja-aprovou-r-245-bilhoes-em-renegociacoes-de-dividas-rurais.ghtml
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