Produtores inovam e transformam flores do café em matéria-prima para chás
Bebida contém antioxidantes, compostos fenólicos e cafeína em níveis moderados, de acordo com pesquisa
As flores brancas e perfumadas dos cafezais, normalmente vistas apenas como sinal de boa florada e promessa de safra abundante, estão ganhando um destino inusitado. Agricultores e pesquisadores brasileiros estão explorando o uso das flores de café na produção de chás, agregando valor ao cultivo e promovendo uma alternativa de renda durante o período entre as colheitas.
Uma das propriedades de café que têm apostado na novidade é Fazenda Camocim, em Domingos Martins (ES). Na cafeteria da fazenda é possível provar o chá ou comprar flores desidratadas preparadas para infusão ou já trituradas, nos tradicionais saquinhos de chá.
Henrique Sloper, proprietário da fazenda, diz que os consumidores gostam do que provam. “Num primeiro momento, experimentam por curiosidade, mas depois compram para levar para casa, atraídos pelos fragrância de café verde, amadeirada e doce, principalmente”.
Segundo ele, o processo para produção do chá de flores de café levou tempo para ser aprimorado, por ainda ser algo novo no país. “Da colheita das flores, à desidratação e envase, são procedimentos primorosos e delicados, que conseguimos atingir na base de experimentação aqui na fazenda. Para ganhar escala de produção, inclusive, buscamos parceiros da área de chás, para envase”, diz.
A colheita das flores de café, por exemplo, exige cuidado e rapidez. Só podem ser retiradas do pé após serem fecundadas e são colhidas manualmente. As que já caíram não são utilizadas. Depois, as flores passam por secagem natural à sombra para preservar o aroma e as propriedades sensoriais. “O resultado é uma bebida suave, levemente adocicada e com notas florais, diferente do sabor marcante do café torrado”, afirma Sloper.
Pesquisa conduzida por instituições como o Centro Universitário do Norte do Espírito Santo (Ceunes), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Porto, em Portugal, publicada na revista científica Foods, informa que o chá de flores de café contém antioxidantes, compostos fenólicos e cafeína em níveis moderados e que “esses compostos já são conhecidos por influenciar o sabor da semente do café e estão diretamente relacionados às suas ações antioxidantes e anti-inflamatórias in vivo e, consequentemente, às suas propriedades benéficas para a saúde”.
“Essas características tornam o chá de flores de café uma bebida funcional com potencial no mercado de infusões especiais", afirma o cafeicultor Sloper.
Além do apelo sensorial, o aproveitamento das flores representa uma forma de reduzir o desperdício e diversificar a renda dos produtores. Em muitas propriedades, as flores eram descartadas naturalmente após a polinização. Agora, passam a ser vistas como um subproduto valioso.
“É uma iniciativa alinhada à economia circular do café, que busca utilizar todas as partes da planta — grãos, cascas, folhas e flores — em novos produtos, aumentando a renda dos agricultores e apoiando a Agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030”, diz o artigo científico publicado na revista Foods.
De acordo com dados da Euromonitor, o mercado de chás no Brasil cresceu 92,5% entre 2019 e 2024, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 14%. No mesmo período, o mercado mundial de chás cresceu 14,8%, com CAGR de 2,8%.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/L/t/AwNid0TNy1aoNEO652ng/whatsapp-image-2025-11-03-at-17.47.19.jpeg)
Aproveitamento das flores representa uma forma de reduzir o desperdício e diversificar a renda dos produtores — Foto: Dryelle Peterli / divulgação
Experiências pioneiras no Brasil
A Casa Baldoni, fazenda de café de produção de cafés especiais e turismo rural, em São José Alegre (MG) inseriu o chá de flor de café no cardápio da cafeteria local. A bebida é preparada a partir da infusão das flores diretamente do pé, sem desidratação. Por isso, é uma bebida disponibilizada localmente, sem comércio das flores.
Já a marca Kapeh, criada pela farmacêutica e bioquímica Vanessa Vilela, de Três Pontas (MG), desenvolveu uma opção de chá de folhas do cafeeiro. Segundo a marca, as propriedades da infusão das folhas são semelhantes às encontradas e buscadas nas flores, com diferenciação leve do aroma.
Paralelamente, a Kapeh utiliza as flores de café para produção de cosméticos, com a mesma proposta de aproveitamento de todas as partes da planta.
Fonte. https://globorural.globo.com/agricultura/cafe/noticia/2025/11/produtores-inovam-e-transformam-flores-do-cafe-em-materia-prima-para-chas.ghtml
Faça um comentário
Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados.