Em nova fase, Regenera Cerrado medirá emissões de carbono
O foco é aprofundar as pesquisas sobre os impactos das técnicas regenerativas na produção de soja e milho
O Regenera Cerrado, programa de agricultura regenerativa patrocinado pela Cargill e executado pelo Instituto BioSistêmico (IBS) com parceria de 11 instituições, entra em uma nova etapa. O foco é aprofundar as pesquisas sobre os impactos das técnicas regenerativas na produção de soja e milho no Cerrado. A nova fase vai demandar US$ 3 milhões, dos quais US$ 600 mil já foram garantidos pela Cargill. O restante está em captação.
“Na primeira fase o foco ficou na produtividade, nos custos, e na resiliência da lavoura diante de problemas climáticos”, afirma Letícia Kawanami, diretora de Sustentabilidade do Negócio Agrícola da Cargill para América do Sul. Agora, serão avaliados parâmetros como fixação e redução das emissões de carbono, impacto dos bioinsumos, efeito na biodiversidade e melhora do solo. Também serão realizados mais workshops e dias de campo, para levar informações a mais produtores.
Segundo Kawanami, muitas empresas que compram soja, milho e derivados da Cargill têm metas de redução de emissões de carbono e conservação ambiental para si próprias e fornecedores. E os programas de agricultura regenerativa ajudam no cumprimento dessas metas. “Empresas como Unilever, Pepsico, Nestlé têm interesse crescente em adquirir matérias-primas produzidas de maneira sustentável”, diz a diretora.
Lançado em 2022, o programa foi criado para pesquisar e disseminar informações sobre a agricultura regenerativa em lavouras de soja e milho no Cerrado brasileiro. O programa acompanha 12 fazendas no sudoeste de Goiás, abrangendo 7.841 hectares.
Cada produtor adota práticas que considera mais adequadas para sua propriedade, como plantio direto, rotação de culturas, plantio de cobertura e insumos biológicos. “Essas fazendas trouxeram todo o seu estudo empírico para que os pesquisadores pudessem fazer a validação científica”, afirma Priscila Calegari, diretora de agricultura do Instituto BioSistêmico.
Um grupo de 35 pesquisadores fez a coleta e análise dos dados das safras 2022/23 e 2023/24. De acordo com resultados da primeira fase do programa, na safra 2023/24, a produtividade da soja em talhões de fazendas pesquisadas atingiram média de 69 sacas por hectare. Nas áreas de agricultura convencional, a produtividade média foi de 66 sacas por hectare. Em Goiás, foi de 56 sacas por hectare. O Estado teve mais perdas na safra por conta da estiagem.
Marion Kompier, da Fazenda Brasilanda, localizada em Montividiu (GO), está entre os participantes do programa. Com a família, ela cultiva 6,6 mil hectares de soja por ano. A produtora diz que conseguiu reduzir em 50% os gastos com fungicidas, herbicidas e adubos nas áreas convertidas com agricultura regenerativa. O custo médio da lavoura, que em Goiás gira em torno de 60 sacas por hectare, baixou para 45 sacas por hectare na fazenda, segundo ela.
Também houve melhora na produtividade, de acordo com Kompier. Alguns talhões chegaram a apresentar rendimento de 79 sacas por hectare. Na média, a produtividade na safra 2024/25 em Goiás foi de 70 sacas por hectare. No Brasil, a média foi de 60 sacas por hectare, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “A melhora é gradativa. A agricultura regenerativa é um caminho, não é de uma hora para a outra que muda a chave”, diz a agricultora.
Entre as práticas adotadas na Brasilanda estão a rotação de culturas, o uso de plantas para cobertura de solo, integração lavoura pecuária, uso de adubo orgânico e biofertilizantes. O controle de insetos é feito com armadilhas.
“Usamos homeopatia na soja e no milho, reduzindo herbicidas, e calda bordalesa [fungicida usado na agricultura orgânica, composto de sulfato de cobre, cal e água]. Agora começamos a usar abelhas para polinização da soja”, relata Marion Kompier.
O programa Regenera Cerrado envolve 11 entidades, além da Cargill: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Federal Goiano, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O programa é coordenado pelo Instituto BioSistêmico (IBS). Também participam do projeto o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS) e o Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (GAPES).
Fonte. https://globorural.globo.com/especiais/fazenda-sustentavel/noticia/2025/09/em-nova-fase-regenera-cerrado-medira-emissoes-de-carbono.ghtml
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