Bancos vão priorizar grande produtor em linha Ecoinvest
Banco do Brasil ficou com a maior fatia do capital público (R$ 4,1 bilhões) e comprometeu-se a investir
Os bancos contemplados no segundo leilão da linha Ecoinvest, cujos recursos irão financiar a recuperação de áreas degradadas, devem atender apenas produtores de grande porte por conta do alto custo de observância da linha de crédito, que demanda controles para comprovação da aplicação do dinheiro.
No Banco do Brasil, a ideia é focar a aplicação do Ecoinvest em um público específico da sua carteira de atacado, mas ainda sem a definição de uma base de valores a serem emprestados. Já os pequenos e médios produtores devem continuar com acesso aos recursos subsidiados do RenovAgro, linha do Plano Safra também destinada à recuperação de pastagens.
Como o custo para cumprir as exigências da linha é alto, em função das regras de apuração da correta aplicação do recurso e da recuperação efetiva da área, o BB não projeta operar os recursos no “varejo”, na carteira comum de crédito. O banco já mapeou grandes clientes e pessoas jurídicas com quem pretende fechar as contratações, de acordo com fontes a par do assunto.
A perspectiva é que a taxa do Ecoinvest no Banco do Brasil fique um pouco acima dos 8,5% cobrados no RenovAgro. Segundo fontes, os empréstimos na nova linha devem sair a juros de “um dígito alto”. O resultado deve refletir o menor alavancagem em relação a outras instituições financeiras.
O Banco do Brasil ficou com a maior fatia do capital público do Ecoinvest (R$ 4,1 bilhões), e comprometeu-se a investir
R$ 6,8 bilhões no programa, o que deve resultar na recuperação de ao menos 275 mil hectares. Procurada, a instituição não quis comentar.
A estratégia de focar nos grandes produtores deverá ajudar em dois pontos. O primeiro é na verificação de aplicação da linha. Com menos clientes e operações concentradas, o monitoramento pode ser facilitado. A segunda vantagem, e que foi um pedido do Ministério da Agricultura, é que, ao trabalhar com clientes grandes, a conversão de pastagens pode dar resultados mais rapidamente. Isso, na visão do governo, pode estimular a prática por outros produtores, disseram fontes.
Para executivos de outros bancos contemplados no leilão do Ecoinvest, não faz sentido emprestar os recursos do programa para pequenos e médios produtores, pois o custo final, ao considerar a observância às regras e rastreabilidade, seria muito mais elevado do que linhas do Plano Safra para a mesma finalidade.
No Bradesco, a decisão é operar contratos a partir de R$ 50 milhões, disse uma fonte, em linha com o que foi sugerido pelo Ministério da Agricultura. O banco privado ficou com R$ 1,9 bilhão da linha pública e aplicará R$ 3,5 bilhões ao todo para converter ao menos 203 mil hectares. Procurado, o banco não respondeu.
Linhas verdes
O Itaú BBA, por sua vez, não definiu um ticket mínimo para as operações que vão começar a ser desembolsados em outubro. As linhas verdes de prateleira do Itaú BBA têm valores mínimos de R$ 500 mil, porém com exigências socioambientais diferentes das do Ecoinvest.
“Ao longo do prazo, o ticket mínimo deve cair, mas não acho que ele seja um grande ofensor”, avaliou Pedro Fernandes, diretor de Agronegócios do Itaú BBA. No Ecoinvest, o valor das operações deverá ser “muitas vezes maior” por conta da magnitude dos investimentos necessários, explicou. “A depender da tecnologia aplicada, a demanda será entre R$ 10 mil e R$ 30 mil por hectare”, disse.
Seu plano é usar a experiência do Itaú BBA no programa Reverte, iniciativa que mantém desde 2021 com a Syngenta, como catalisadora do Ecoinvest aos clientes da carteira de R$ 130 bilhões, formada majoritariamente por grandes produtores e empresas do agro.
Segundo ele, a ideia é que os novos projetos do programa Reverte sejam atendidos pelo recursos do Ecoinvest. Além disso, os recursos que não tiverem participação do Tesouro poderão ter “usos específicos” dentro do Reverte. O banco vai aportar R$ 3,8 bilhões no programa para converter ao menos 202 mil hectares.
As exigências socioambientais do Ecoinvest são mais elevadas, pois envolvem recurso público, mas a um custo financeiro melhor, disse Fernandes.
A precificação da linha será feita de acordo com o “rating” do cliente, disse Fernandes. “Nos melhores casos podemos chegar ao um dígito almejado pelo Ministério da Agricultura”, destacou. A formação dos juros finais, salientou, dependerá também das condições de mercado para captação dos recursos. Ele não revelou qual será a estratégia de funding para o programa.
O Itaú BBA mantém no radar a possibilidade de uso de fundos para desembolso, em casos específicos de necessidade de prazo maior, mas prefere operar diretamente com os produtores por conta de custos e complexidades que podem tornar o processo de conversão mais lento. “Achamos que simplificar é necessário para construir uma inovação em financiamento como é o Ecoinvest”, apontou.
Fonte. https://globorural.globo.com/credito-e-investimento/noticia/2025/09/bancos-vao-priorizar-grande-produtor-em-linha-ecoinvest.ghtml
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