A explosão no uso das chamadas “canetas emagrecedoras” — medicamentos da classe GLP-1 — provocou uma redução visível no número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil. No entanto, especialistas alertam: o fenômeno pode ser temporário e arriscado.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Juliano Blanco Canavarros, a tendência atual precisa ser vista com cautela. “Houve uma redução, sim, mas talvez essa redução seja transitória”, afirmou o médico, que vê com preocupação o entusiasmo precoce com os medicamentos.

“Costumamos banalizar a obesidade. Tudo é culpa. É preguiça dele. Não é. Infelizmente é como culpar alguém por ter um câncer”, afirmou o especialista.

Segundo Canavarros, o uso das canetas não deve ser tratado como solução mágica para uma doença crônica, multifatorial e complexa como a obesidade. Ele destaca ainda que os efeitos a longo prazo do uso dessas substâncias ainda são pouco compreendidos.

“Eu ainda tenho um pé atrás com esses remédios, não a curto e médio prazo. Eu tenho um pé atrás a longo prazo. Será que não vai haver um aumento de câncer medular de tireoide, de neoplasia neuroendócrina de pâncreas? Eu fico muito preocupado”, alertou.

Em Cuiabá, há registros de pacientes internados em estado grave possivelmente associados ao uso indevido dos medicamentos, o que reforça a necessidade de supervisão médica e cuidado no uso dessas substâncias.

Canavarros ressalta que cirurgia bariátrica e medicamentos não devem competir, mas sim fazer parte de um plano de tratamento individualizado, construído entre paciente e equipe médica.

“O combate à obesidade não pode ser uma guerra de torcidas entre canetas e cirurgia. O tratamento deve ser baseado em indicação precisa, acompanhamento multidisciplinar e informação honesta. Cada paciente precisa encontrar o caminho mais seguro e eficaz para sua saúde”, concluiu.

Fonte.https://www.folhadoestado.com.br/saude/canetas-emagrecedoras-nao-aposentarao-a-bariatrica-alerta-medico/628414