Outubro e maio são os meses com mais denúncias de violência contra a mulher em Cuiabá
Delegada Judá Marton aponta que os meses de maior procura por ajuda policial são aqueles em que as mulheres são mais incentivadas ao "autocuidado" e se sentem mais valorizadas.
Diferente do que se pode pensar, o mês de março, que celebra o Dia Internacional da Mulher, não é o período de maior procura por ajuda nas delegacias de Cuiabá. De acordo com o anuário da Polícia Civil, os meses em que mais mulheres denunciam a violência que sofrem são outubro e maio.
A delegada Judá Marton, titular da Delegacia da Mulher, fez uma análise sobre o fato. "Eu refleti sobre isso e acredito que seja porque no mês de outubro nós temos o Outubro Rosa, que é onde se busca e atrai as mulheres para o autocuidado. Quando ela faz aquela análise da questão da mama, da saúde, ela começa a pensar no relacionamento abusivo".
Segundo a delegada, o mês de maio, que celebra o Dia das Mães, também se destaca porque é um período em que a mulher se sente mais valorizada, o que a encoraja a buscar ajuda.
"Isso repercute na segurança pública. A gente percebe que não é o mês de março, mas sim nos momentos em que elas são cuidadas e olham para si", concluiu.
O estudo
Segundo o estudo de 2024, a maioria dos casos de violência é denunciada por mulheres que estão em relacionamentos de até 10 anos.
A delegada Judá Marton explicou que a incidência de denúncias é maior nesse período, enquanto a procura por ajuda diminui drasticamente em casamentos mais longos, como os de 30 anos.
"Isso demonstra que as mulheres no início do relacionamento conseguem sair daquele emaranhado de violência. Quanto mais tempo ela fica, menos coragem ela tem", refletiu.
Os dados revelam um cenário preocupante: o número de denúncias na capital triplicou nos últimos cinco anos, com um aumento de 200% desde 2020. Em 2024, foram registrados 6.223 atendimentos, um crescimento de 27% em relação a 2023.
Isso demonstra que as mulheres no início do relacionamento conseguem sair daquele emaranhado de violência. Quanto mais tempo ela fica, menos coragem ela tem
A delegada Mariel Antonini, coordenadora de enfrentamento à violência contra a mulher, e o delegado Richard, coordenador do Plantão da Mulher, participaram da apresentação ao lado da delegada Judá Marton, titular da Delegacia da Mulher, que detalhou as estatísticas.
Um dos dados mais chocantes apresentados foi a relação direta entre a ausência de denúncia e o risco de feminicídio. Segundo o anuário, das 47 mulheres assassinadas em Mato Grosso no ano passado, 46 não haviam solicitado medidas protetivas. O estudo aponta que, ao contrário do que muitas mulheres pensam, o silêncio é o que mais as coloca em perigo.
A delegada Judá Marton ressaltou a eficácia das medidas protetivas, afirmando que 87% dos agressores as cumprem. "Quando a polícia entra em cena, o agressor reflete sobre o que está fazendo e diminui o ritmo de violência", explicou.
O relatório mostra ainda que 99% das mulheres que pedem proteção em todo o estado evitam uma tragédia.
Perfil das vítimas e agressores
O anuário traz um raio-x do crime de violência doméstica. Os dados mostram que os crimes mais comuns são ameaça, injúria e lesão corporal.
Tempo de relacionamento: A maior incidência de denúncias (71%) acontece no primeiro ano após a separação. Relacionamentos de até 10 anos são os que mais geram denúncias.
Perfil: A maioria das vítimas tem entre 30 e 49 anos, e 55% se declaram como sendo de cor preta ou parda. Já entre os agressores, o perfil é de homens autodeclarados empresários, com 36% deles com ensino superior.
Procedimentos: Em 2024, foram solicitadas 3.879 medidas protetivas, com 627 prisões em flagrante e 58 por mandado de prisão. Além disso, 128 mulheres foram encaminhadas para casas de amparo.
A delegada Judá destacou o trabalho técnico da Polícia Civil, que realizou quase 2 mil perícias, incluindo 516 para avaliar o dano emocional das vítimas de violência psicológica. "Nós somos uma polícia técnica que trabalha com investigação séria", afirmou.
A delegada Mariel Antonini finalizou a coletiva reforçando que o objetivo do anuário é mostrar o trabalho da polícia e incentivar as mulheres a buscarem ajuda.
Ela frisou que a Delegacia da Mulher atua para além do registro de boletins, garantindo que as vítimas tenham acesso a toda a rede de proteção, incluindo apoio psicológico, jurídico e moradia.
Fonte. https://www.unicanews.com.br/cidades/outubro-e-maio-sao-os-meses-com-mais-denuncias-de-violencia-contra-a-mulher-em-cuiaba/128784
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