Demanda aquecida pavimenta início da recuperação dos preços do frango
Consumo em alta no país e reabertura de mercados no exterior elevaram cotações em setembro, o primeiro aumento desde a crise da gripe aviária
O mês de setembro marcou o início da recuperação dos preços do frango no mercado brasileiro. As cotações da carne no atacado e também do animal vivo encerraram o mês em alta, subindo pela primeira vez desde maio, quando o Brasil identificou um foco de gripe aviária em uma granja comercial do Rio Grande do Sul, um episódio inédito, que desestabilizou todo o mercado. Passado o momento mais agudo da crise, analistas consultados pelo Valor apostam em um cenário promissor no último trimestre de 2025 tanto para o consumo de carne de frango no mercado interno quanto para as exportações.
No decorrer deste ano, as operações de frango foram um dos maiores destaques nos resultados de grandes frigoríficos, como a JBS, controladora da Seara, e da então BRF, que passou a se chamar MBRF após fusão com a Marfrig. Nesse contexto, a atual reação do segmento tende a contribuir para o desempenho das companhias no segundo semestre.
“Com a retomada de diversos mercados na exportação, era esperada uma melhora no preço do frango. Pode ajudar, sim (o resultado das empresas)”, disse o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.
Em São Paulo, o preço médio do frango congelado terminou setembro em R$ 7,35 por quilo no atacado, o que representou um aumento de 4,85% em relação a agosto e de 9,86% no comparativo anual, conforme dados compilados pela consultoria Safras & Mercado. O valor ainda está abaixo dos R$ 8,07 por quilo registrados em maio, mas foi a primeira elevação mensal desde então.
O preço do animal vivo, pago ao produtor rural, atingiu R$ 5,93 por quilo em setembro no mercado paulista. Trata-se de uma alta de 5,89% em relação a agosto e de 7,81% em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com o levantamento.
Em maio, o valor do frango vivo era de R$ 6,17 por quilo, e o preço estava em ascensão desde o início de 2025. A gripe aviária de alta patogenicidade, detectada em Montenegro (RS) naquele mês, levou mais de 100 países a suspenderem as compras de frango e produtos avícolas do Brasil inteiro. Em junho, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) declarou o caso encerrado, e os importadores foram voltando aos poucos, exceto alguns como a China, que ainda não confirmou quando retomará as compras da carne de frango brasileira.
Para seguir no combate à doença, o Ministério da Agricultura prorrogou na segunda-feira (6/10), por 180 dias, o estado de emergência zoossanitária contra a gripe aviária em todo o país. O status permite ao país acelerar a liberação de recursos para ações contra a disseminação da doença.
Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, avalia que o desempenho do segmento avícola no mês passado representou “uma bela recuperação para a avicultura”, uma vez que os preços subiram em toda a cadeia. “Nós estamos observando uma demanda interna que se aquece. Isso motiva o consumo de todas as proteínas de origem animal”, comentou o especialista.
Para Thiago Bernardino, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o mercado interno vive um período em que as taxas de desemprego estão entre as menores da história, o que ajuda a aumentar os níveis de renda da população. Por outro lado, observa ele, a inadimplência está elevada, fazendo com que os consumidores optem pela redução de custos na hora de escolher uma proteína animal quando vão ao supermercado.
“Os brasileiros não estão conseguindo pagar suas contas. Se o dinheiro fica mais curto, naturalmente a pessoa vai optar por uma proteína mais barata, seja ovo ou frango”, diz Bernardino.
Em outra frente, segundo o pesquisador, a suspensão temporária de exportações para diversos mercados levou a um ajuste na produção de aves, em uma tentativa da indústria de equilibrar a oferta à demanda. “Isso, por si só, ajuda na questão da valorização do preço da carne de frango”, pontua ele.
No caso das vendas ao mercado externo, a China deixou de comprar do Brasil, mas, em contrapartida, além da retomada gradativa de outros importadores, surgiram demandas adicionais de países como as Filipinas, que passaram a procurar mais a carne brasileira para conter índices de inflação em seus respectivos mercados. Com isso, os exportadores tiveram um período de adversidades, mas os contratempos acabaram sendo mais brandos do que se esperava.
As exportações de carne de frango do Brasil totalizaram 482,3 mil toneladas em setembro, um volume apenas 0,6% menor do que o do mesmo período do ano passado, informou ontem a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Apesar da queda, esse foi o melhor resultado mensal dos últimos 11 meses e o melhor desempenho em 2025.
O mês passado foi marcado pelo fim do embargo da União Europeia, que o bloco impôs em decorrência da gripe aviária. Com a reabertura do europeia, “a expectativa do setor é de que as exportações (de carne de frango) se restabeleçam nos patamares anteriores”, estima a analista da Scot Consultoria Juliana Pila.
Para ela, no curto prazo, o mercado interno também tende a permanecer firme. Tradicionalmente, o último trimestre costuma ter uma demanda mais alta por carnes, impulsionado pelo aumento na renda da população e pelo consumo nas festas de fim de ano.
Nas exportações, o analista da Safras & Mercado acredita que as vendas do setor podem voltar ao potencial máximo nos próximos meses e há sinais de que os chineses voltarão a importar em breve.
Uma delegação de técnicos do país asiático visitou recentemente laboratórios, granjas e unidades de abate de frango para conhecer todo o sistema sanitário do Brasil. Dessa agenda se espera que venha um sinal verde para as compras da carne.
Além da oferta e demanda, outro fator que compõe as margens — e também tem perspectiva positiva — é o custo. “Quando a gente olha para custos, eles estão controlados. Há boa disponibilidade de milho, há boa disponibilidade de farelo de soja no mercado brasileiro nessa temporada”, afirma Iglesias. “A combinação de tudo isso mostra como, apesar dos percalços, o setor pode terminar 2025 com boa condição de rentabilidade”, completa.
Fonte. https://globorural.globo.com/pecuaria/aves/noticia/2025/10/demanda-aquecida-pavimenta-inicio-da-recuperacao-dos-precos-do-frango.ghtml
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