plantio em um campo Foto Reprodução Globo Rural
Por José Maria Tomazela
Expectativa é de que os agricultores mantenham pelo menos a mesma área de cultivo atual, investindo mais em ganhos de produtividade.
Depois de colher uma safra histórica de grãos, com um recorde de 345,2 milhões de toneladas, produtores de todo o Brasil já se preparam para iniciar um novo plantio. Apesar do clima de incerteza por conta das tarifas do presidente norte-americano Donald Trump, os agricultores já compraram os insumos e vão pelo menos manter a mesma área de cultivo desta safra, investindo mais em produtividade. “O nosso campo não tem como parar”, diz o produtor rural Invaldo Weiss, de Nova Carmen, no Mato Grosso.
O plantio da soja, principal produto agrícola brasileiro, começa em setembro e os produtores têm menos de um mês para uma definição sobre o tamanho da área que será cultivada. O período será marcado por duas expectativas: a chegada das chuvas e o tarifaço de Trump.
O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, acredita que, mesmo com o cenário incerto, o País vai continuar batendo recordes de produção. “O milho, que teve um desempenho histórico nesta safra, continuará avançando, e a soja irá além das 170 milhões de toneladas que tivemos agora. Se não houver uma questão climática grande, vamos até aumentar esses patamares”, aposta.
Do ponto de vista agronômico, segundo o especialista, a perspectiva no caso da soja é de continuar aumentando a produção na faixa de 1% a 2% ao ano. Ele lembra que o principal cliente brasileiro para o grão é a China, e isso não será afetado de forma direta pelo tarifaço. “Se sair um acordo na linha que o Trump cobra, de que os chineses comprem mais soja americana, isso pode afetar o poder decisão do produtor, se ele vai plantar mais ou menos. Isso tudo impacta preço e é difícil prever.”
O produtor Invaldo Weiss diz que a alternativa é plantar. “A situação política é preocupante, mas no nosso campo não tem como parar. Tivemos uma safra muito boa, com produtividade excelente para soja e milho, mas sabemos que o cenário agora é outro. Os custos subiram e o preço de venda está mais baixo. Não vamos ampliar, mas vamos plantar as áreas que já temos, pois os adubos e as sementes estão comprados”, diz.
No interior de São Paulo, os produtores ligados à Cooperativa Agrícola de Capão Bonito também avaliam com preocupação o novo cenário. Para o presidente e produtor Emílio Kenji Okamura, as tarifas e acordos bilaterais entre Estados Unidos e China, bem como as possíveis restrições sobre o comércio de fertilizantes e petróleo do Brasil com a Rússia, deixam os produtores apreensivos. “Isso pode elevar o custo da produção, o que, associado a uma produção recorde de soja e milho nos Estados Unidos, sinaliza uma próxima safra de preços baixos”, diz.
Ele observa que, em cenários assim, os produtores tendem a optar por culturas com custo de produção mais baixo - por exemplo, aumentando a área de sorgo e reduzindo a do milho. “A tendência é reduzir o cultivo em terras arrendadas, que têm custo mais alto”, diz. A safra atual na região foi de altas produtividades na soja, milho e sorgo, mas o produtor está vendendo no spot (entrega imediata), pois não consegue armazenar. “Hoje, armazenamos apenas 35% da produção dos cooperados. É o retrato do Brasil.”
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