O acordo entre Mercosul e EFTA, bloco formado por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, deve estreitar os laços entre o agro brasileiro e o norueguês, que têm um longo histórico de relações comerciais. Os dois blocos concluíram em julho as negociações para um acordo de livre comércio. A assinatura efetiva ocorrerá ainda neste ano.

O acordo prevê redução ou mesmo eliminação de tarifas de importação que incidem sobre produtos diversos, em uma lista que vai de maçãs a petróleo cru, além de facilitação de trâmites para o desembaraço de cargas e derrubada de tarifas aduaneiras. Em alguns casos, haverá cotas para exportação livre de imposto.

“O Brasil é o principal parceiro comercial da Noruega fora da União Europeia e dos Estados Unidos. Mais de 200 empresas norueguesas têm negócios no Brasil, e os investimentos delas no país, que têm sido constantes, devem aumentar daqui para a frente”, afirmou o diplomata Kjetil Elsebutangen, que mudará para o Brasil no dia 1 de dezembro para assumir a embaixada norueguesa no país.

Antes de ingressar na carreira diplomática, Elsebutangen atuou por 15 anos como jornalista, dedicando-se principalmente à cobertura de assuntos de relações internacionais e defesa. Parte dessa trajetória ele contruiu em Bruxelas, na Bélgica, cidade que abriga algumas das principais estruturas da UE, como a Comissão Europeia, e onde fica a sede também da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

Um exemplo prático das oportunidades comerciais que o acordo poderá abrir é o do salmão norueguês. Os brasileiros estão habituados com o bacalhau da Noruega, produto pelo qual a demanda cresce muito em datas festivas, como a Páscoa, mas, na forte indústria pesqueira norueguesa, é o salmão, e não o bacalhau, o carro-chefe. Atualmente, cobra-se tarifa de 10% para o salmão norueguês entrar no Mercosul. Com a efetivação do acordo — etapa que inclui a assinatura dos países integrantes dos dois blocos e a ratificação nos respectivos parlamentos —, as taxas aduaneiras cairão para zero, e as tarifas passarão por redução gradual até que também fiquem zeradas.

Na rota inversa, a carne de frango do Mercosul — o item é um dos mais importantes das exportações brasileiras de proteínas animais — ganhará uma cota para entrar no mercado norueguês livre de taxas. Hoje, a Noruega não exporta salmão fresco ao Brasil nem importa carne de frango brasileira.

Hoje, as vendas norueguesas ao Mercosul correspondem a mais de R$ 6 bilhões. O governo brasileiro estima que, em 2044, o acordo com o EFTA adicionará R$ 2,69 bilhões ao produto interno bruto (PIB) e agregará R$ 660 milhões em investimentos no país.

Mas, para o futuro embaixador, os benefícios práticos do acordo entre EFTA e Mercosul não se restringem aos resultados comerciais. “O acordo transmite uma importante mensagem política, a dos benefícios do multilateralismo e do respeito às leis. Essa importância fica ainda maior em um momento em que o mundo está tão polarizado”, afirmou.

Elsebutangen observou que o estágio atual de desenvolvimento da Noruega, um dos países com os melhores índices de desenvolvimento econômico e social do mundo, seria impraticável sem cooperação internacional. “Segurança, economia e bem-estar social da Noruega dependem de um sistema funcional de multilateralismo. Quando o sistema fica sob pressão, isso afeta diretamente os interesses noruegueses”, disse.

Ragnhild Sjoner Syrstad, vice-ministra de Comércio, Indústria e Pescados, mencionou oportunidades em segmentos como pesca e fertilizantes, mas também não deixou de mencionar os ganhos do multilateralismo. “A simples existência do acordo dá previsibilidade e estabilidade. Isso, por sua vez, pode permitir às empresas ver oportunidades que hoje nós nem sabemos que existem”, afirmou.

O jornalista viajou a convite de Yara e Innovation Norway

Fonte. https://globorural.globo.com/economia/noticia/2025/08/agro-brasileiro-estreita-lacos-com-a-noruega.ghtml