Como uma fazenda de MG alcançou produtividade de leite quatro vezes acima da média nacional
Tecnologia e gestão transformam a Fazenda Sertãozinho em referência na pecuária leiteira
Uma propriedade no sul de Minas Gerais vem desafiando os limites de produtividade leiteira. Com um rebanho de 160 vacas, a Fazenda Sertãozinho, no município de Virgínia, produz pouco mais de 6 mil litros de leite por dia, registrando uma produtividade média de 11,5 mil litros por animal ao ano. O volume supera em mais de quatro vezes a média nacional de 2.362 litros por vaca/ano, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para atingir tão bons resultados, a propriedade utiliza tecnologias de ponta na pecuária leiteira. “A fazenda funciona como empresa. Metas, indicadores, tecnologia: tudo isso sempre esteve presente aqui”, conta o proprietário Andres Sanchez de Rojas Gonzalez.
A pecuária leiteira sempre foi uma paixão na vida de Gonzalez. Aos 22 anos, após se formar em agronomia e estagiar em uma propriedade de leite tipo A decidiu que teria uma fazenda, mas o caminho que percorreu até a realização do seu sonho foi longo.
Filho de um metalúrgico da Volkswagen, Gonzalez cresceu distante da realidade dos colegas da faculdade, quase todos herdeiros de terras. Ele se dedicou então aos estudos, passando por um mestrado em irrigação na Espanha e um Master of Business Administration (MBA) executivo internacional na Fundação Instituto de Administração (FIA).
Foi no ano de 2005, aos 44 anos, após uma consolidada carreira no mundo corporativo, ao se tornar CEO no Brasil da multinacional de logística Syncreon, que conseguiu comprar a tão sonhada propriedade. “Mesmo com uma trajetória executiva bem-sucedida, a meta de ter a fazenda permaneceu viva na minha cabeça”, conta Rojas, que também foi sócio da Bauko, uma das maiores empresas de locação de empilhadeiras da América Latina.
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Atualmente, entre vacas e novilhas, a Fazenda Sertãozinho mantém 300 animais — Foto: Divulgação.
Vida de pecuarista
Quando assumiu a propriedade, Gonzalez começou com uma produção pequena: apenas 30 vacas mestiças, ordenhadas à mão, que produziam cerca de 200 litros de leite por dia. Por muitos anos se dividiu entre a residência de São Paulo e a fazenda de Minas Gerais. “Fiquei por cerca de 15 anos indo para a fazenda às quintas e voltando sábado ou domingo para São Paulo”, conta o pecuarista, que desde o início norteou a propriedade pelos princípios de bem-estar animal e sustentabilidade.
O produtor conserva 350 hectares dos 500 que formam a propriedade e desde o início decidiu que não mexeria nesse patrimônio ambiental. Hoje a fazenda Sertãozinho conta com energia solar, reaproveitamento da água dos telhados para lavagem das instalações, sistema de retorno da água excedente para o rio e mais de 40 nascentes preservadas. “Estou convicto de que a mata vai valer mais para meus netos do que qualquer hectare de produção”, afirma.
No rebanho leiteiro, Rojas aplicou parte da experiência acumulada no setor corporativo. “O investimento foi sempre planejado, nunca nada foi emendado, para implantar um sistema com capacidade de produção de 10 mil litros de leite por dia”, diz o pecuarista que adotou para a recria o sistema Compost barn, em que os animais vivem coletivamente em galpões com camas feitas de matéria orgânica. Já as vacas que estão em ordenha são alojadas no sistema free stall, em baias individuais e recebem manejo diário.
Além disso, as vacas e novilhas possuem colares Cow Watch, que monitoram em tempo real ciclo reprodutivo, saúde, dieta, movimentação e estresse térmico. Rojas também possui a genotipagem completa de seu rebanho, com o DNA de cada animal mapeado nos Estados Unidos para cruzamentos de alta precisão. Essas informações são muito relevantes para fertilização in vitro e transferência de embriões, pois garantem genética superior e novilhas mais produtivas”, conta. Atualmente, entre vacas e novilhas, a Fazenda Sertãozinho mantém 300 animais.
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A Fazenda Sertãozinho conserva 350 hectares dos 500 que formam a propriedade — Foto: Divulgação
Fazenda modelo
O desempenho e a organização da Sertãozinho transformaram a fazenda em vitrine da Lactalis, para quem Rojas entrega sua produção. A propriedade costuma receber visitas de diretores internacionais da companhia, que é uma das maiores do mundo no segmento lácteo e detém no Brasil marcas como Parmalat, Itambé, Batavo e Elegê. “Acredito que o fato de termos muitas funcionárias mulheres têm contribuído para a boa organização da nossa estrutura. Elas são caprichosas e atentas”, explica o produtor.
Há quatro anos, Rojas abandonou definitivamente o ambiente corporativo para viver da pecuária leiteira. Permanece na propriedade de segunda-feira a quinta-feira, voltando aos fins de semana para São Paulo.
“Eu nunca vou chegar onde eu quero, pois sempre há algo para melhorar”, brinca. Mas a meta atual é clara, pretende elevar a produção para 8 mil litros diários até 2026, manter as ações de sustentabilidade e continuar provando que gestão profissional é o grande diferencial da atividade leiteira no Brasil.
Fonte. https://globorural.globo.com/pecuaria/leite/noticia/2025/11/como-uma-fazenda-de-mg-alcancou-produtividade-de-leite-quatro-vezes-acima-da-media-nacional.ghtml
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